1 de jul. de 2021

O comunista do Café Rian - III


E assim minha visão foi abrindo, na verdade eu era limitado como todo garoto da minha geração. Buscava-se o conhecimento sobre coisas simples apenas na sala de aula, fomos adquirir uma TV somente em 1972, informação mesmo, somente quando íamos na casa de vovô.

Meu avô, viúvo, mecânico naval aposentado, trabalhou parte de sua vida embarcado. morava com Maria Antônia, prima da falecida vovó, hábil costureira  que se acomodou na casa desde jovem quando veio pra cidade trabalhar na fábrica de Tecidos, e por ali ficou até seus 99 anos. Solteira convicta, Bibi como era chamada pelas crianças, dormia em um quarto contiguo ao de vovô unidos por uma porta que permanecia sempre aberta.


O velho tinha adquirido uma habilidade espetacular com torno e forja graças ao tempo que esteve embarcado. Ele contava que muitas vezes teve que fazer peças para consertar o velho vapor balizador Benjamin Constant, com fortes ventos sudoeste no meio da Lagoa dos Patos  tendo que escapar da depressão da Feitoria para não encalhar. 
 
Na casa não tinha chuveiro elétrico, a água era aquecida em uma caldeira que ele havia feito na rua, ao lado do banheiro. Ali ele queimava jornais velhos e lenha seca que recolhia no quintal.  Em sua oficina encontrava-se ferramentas de todos os tipos, a maioria produzidas por ele com meticulosidade e paciência, coisa que não lhe faltava.  

Com seus dedos grossos e mão pesada, foleava todas as manhãs com extrema sutileza, o exemplar standard do Correio do Povo com seus 10 cadernos. Ninguém tocava no jornal antes dele, era uma das regras de convivência da casa da Álvaro Chaves, 505, somente quebrada quando meu tio chegava para as festas de final de ano.

continua...


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