22 de jul. de 2021

O comunista do Café Rian - VIII


Na verdade mudar bruscamente de assunto, era a coisa mais comum naqueles tempos.

Tudo era motivo para desconfianças, um olhar direto, um jornal embaixo do braço, um sapato muito bem engraxado, uma gravata preta ou vermelha, nada escapava do olhar aguçado de um dos amigos de meu tio. Seu nome, Nilo. Era um colega de repartição. Tinha os olhos esbugalhados, bigodes bem fininhos, cabelos lambidos e grudados com brilhantina. Nunca havia visto pessoa tão desconfiada... 

Uma certa manhã ele me chamou de lado para dizer que ficasse atento aos engraxates da rua da Praia, pois eles andavam com os dedos engraxados só para sujar a camisa branca das pessoas desavisadas que não aceitavam seus serviços:

_Fica de olho guri!!! Esses malandros são tudo comunista!!!

Eu não via malandragem naqueles piás, praticamente todos guris da minha idade ou menos, que estavam ali na rua trabalhando, limpando os sapatos de todo mundo, renovando a aparência dos calçados dos que só tinham dinheiro  para pagar por meias-solas no sapateiro da esquina e, "olhe lá"! 

"Malandros"? Comunistas? Eu nem sabia o quê era isto???

Mas Nilo era desconfiado demais. Enquanto eu e meu tio observávamos as "donas boas" que desfilavam suas belezas sob a brisa suave que vinha do Guaíba, ele ficava observando as pessoas com extrema desfaçatez, pelo reflexo das vitrines...

18 de jul. de 2021

O comunista do Café Rian - VII

 Estariam entendendo tudo, não fosse a tremenda trave em seus olhos... E viva a Democracia!!!! Quer saber mais??? Contribua PIX 25926080010



16 de jul. de 2021

Por uma posição definitiva da sociedade - IMPEACHMENT JÁ

 


Um clipe reunido vários artistas está bombando nas redes sociais, coincidindo com um ato virtual pelo Impeachment de Jair Bolsonaro, que recolheu mais de 30 mil assinaturas de trabalhadores de vários segmentos culturais, representantes de movimentos sociais e setores da sociedade civil na quinta-feira (15/7).

Intitulada "Desgoverno", a música que embala o manifesto foi composta por Zeca Baleiro e Joãozinho Gomes, e sua gravação reuniu cantores, instrumentistas, atores e ativistas de várias regiões do país. Em ritmo de reggae, o refrão resume a mensagem: "Um homem sem juízo e sem noção não pode governar esta nação".

 Os artistas que participam do clipe são Aílton Graça, André Abujamra, Andrea Horta, Bárbara Paz, Camila Pitanga, Chico Salem, Dani Nega, Denise Fraga, Dira Paes, Danilo Grangheia, Érico Theobaldo, Ellen Oléria, Elisa Lucinda, Fabiana Cozza, Fernando Nunes, Gero Camilo, Julia Lemmertz, Letícia Sabatella, Kuki Stolarski, Luís Miranda, Malu Galli, Marco Ricca, Matheus Nachtergaele, Nô Stopa, Pedro Cunha, Sandra Nanayna, Simone Julian, Tata Fernandes, Tiquinho, Tuca Marcondes, Vange Milliet, Zahy Guajajara, Zeca Baleiro e Zélia Duncan.

O comunista do Café Rian - VI


As "donas boas" da rua da Praia dias de semana pela manhã, eram maravilhosas!!!! Meu queixo caia a cada cotovelada de meu tio apontando aquelas maravilhas.  A nata de mulheres bonitas, cinturas finas, seios avantajados, requebrados insinuantes... Eram manhãs que entre um cafezinho  e outro, passavam voando. 

Entre cigarros e cafés, conversas de todos os gostos, desde o futebol e das jogadas do lateral esquerdo colorado, Sadi Schwerdt,  às mancadas de Didi, e não era o trapalhão mas sim o atacante do colorado que passava por ali seguidamente e, todos mudavam de assunto ou ficavam quietos, eu não sabia o porquê... Saberia depois por causa de 2 uruguaios... 

8 de jul. de 2021

O comunista do Café Rian - V

Como disse, o aroma do fumo me embriagava, conduzia-me ao êxtase, fazia minha alma viajar milhas nas estórias propostas em uma imaginação fértil. Estávamos nos anos áureos da ditadura, nada podia ser discutido entre quatro paredes... A rua era o palco ideal! E alí, na calçada da rua, sentados em cadeiras de praia, nada era mais  normal... Família reunida era tudo de bom para aqueles tempos confusos e conturbados...

Voltando a nosso relato inicial, já se passava com certeza metade da década de 60 quando sai do apartamento da Vasco Alves, pra quem não sabe, Gen herói das batalhas Cisplatinas, para caminhar pela rua dos Andradas, por acaso, bem no inicio de tudo... Ali nasceu Porto Alegre!!! Salustiano com rua dos Andradas... Poucos metros de nossa casa!!! Mas deixemos isso pra lá.

Eu seria apresentado as mais belas "donas boas" da capital, isso sim valia a pena, meu tio, meu amigo amado só escutando Raul Torres pra entender. 

3 de jul. de 2021

O comunista do Café Rian - IV

No final de ano a casa ficava cheia. Meus tios chegavam para o Natal e Ano Novo com malas, filhas e todo o tipo de novidades. Meu avô recebia todos na casa com muito orgulho e sem parcimônia. 

Pai de quatro filhos, o vô Gustavo fazia questão de reunir toda a família, pequena para àqueles tempos. Meu pai, o primogênito, servidor público do estado, tinha três filhos, eu e minhas doces e queridas irmãs. Leda, minha tia professora, não tivera filhos. Vilmar, o "Gordo", meu tio bonachão, exator da mesa de rendas, tinha duas filhas e, o mais novo dos quatro, Gustavinho, terceiro sargento do exército tinha apenas uma filha. 

Eu era o único neto homem de meu avô, aquele que teria que dar continuidade ao sobrenome da família, era um peso enorme sobre minhas costas e todos cobravam, menos ele, meu tio...

Amigo da Onça
Sentávamos à frente da casa para jogar conversa fora e ver os raros
carros e transeuntes que passavam naquela quadra formada por apenas seis casas e a oficina mecânica do Baixinho, um picareta com cara de "amigo da onça" cuja simpatia era discutida por todos... 

Entre uma baforada e outra, se discutia de tudo. Gustavinho matava no peito um Continental sem filtro, meu tio economista, mais sofisticado, curtia um Carlton ou um Charm, eram os únicos fumantes da família. 

O aroma do fumo me hipnotizava e era fácil tornar-se personagem nas estórias contadas...

1 de jul. de 2021

O comunista do Café Rian - III


E assim minha visão foi abrindo, na verdade eu era limitado como todo garoto da minha geração. Buscava-se o conhecimento sobre coisas simples apenas na sala de aula, fomos adquirir uma TV somente em 1972, informação mesmo, somente quando íamos na casa de vovô.

Meu avô, viúvo, mecânico naval aposentado, trabalhou parte de sua vida embarcado. morava com Maria Antônia, prima da falecida vovó, hábil costureira  que se acomodou na casa desde jovem quando veio pra cidade trabalhar na fábrica de Tecidos, e por ali ficou até seus 99 anos. Solteira convicta, Bibi como era chamada pelas crianças, dormia em um quarto contiguo ao de vovô unidos por uma porta que permanecia sempre aberta.


O velho tinha adquirido uma habilidade espetacular com torno e forja graças ao tempo que esteve embarcado. Ele contava que muitas vezes teve que fazer peças para consertar o velho vapor balizador Benjamin Constant, com fortes ventos sudoeste no meio da Lagoa dos Patos  tendo que escapar da depressão da Feitoria para não encalhar. 
 
Na casa não tinha chuveiro elétrico, a água era aquecida em uma caldeira que ele havia feito na rua, ao lado do banheiro. Ali ele queimava jornais velhos e lenha seca que recolhia no quintal.  Em sua oficina encontrava-se ferramentas de todos os tipos, a maioria produzidas por ele com meticulosidade e paciência, coisa que não lhe faltava.  

Com seus dedos grossos e mão pesada, foleava todas as manhãs com extrema sutileza, o exemplar standard do Correio do Povo com seus 10 cadernos. Ninguém tocava no jornal antes dele, era uma das regras de convivência da casa da Álvaro Chaves, 505, somente quebrada quando meu tio chegava para as festas de final de ano.

continua...


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