30 de jun. de 2021

O comunista do Café Rian - II


No mais tudo era paz. Meus tios tinham uma preocupação com o bem estar dos vizinhos, nossas conversas eram aos cochichos, eu não entendia bem o porquê. caminhava-se nas pontas dos pés, arrastar uma cadeira nem pensar... Manias! Coisas de gente da capital, casal sem filhos, que mal faz arrastar uma cadeira? 

Eu, criado na Vila do Sapo, não entendia essas preocupações. Nossos vizinhos não eram tão exigentes assim. Nunca vi o Antônio Merdaco ou o João Louco, o corno mais feliz da Vila do Sapo, reclamarem por qualquer vozerio mais alto na  avenida que morávamos no Bairro Nossa de Fátima. E por falar em João Louco, esse mereceria um capítulo a parte, quem sabe um dia ainda escrevo sobre a forma como ele se esquivava para deixar o caminho aberto para o "Cabelinho", (cara de boa aparência traje refinado mas gosto estranho para mulheres), chegar até a cama da dona Z, esposa do corno João Louco;  Antônio Merdaco também tinha seu histórico no serviço de saneamento, pelo nome, imaginam com o quê. Mas isso não vem ao caso.

Eu, por ser convidado, cumpria todos as exigências no pequeno apartamento da família Caetano. Tomava banho todos os dias, escovava os dentes, brincava silenciosamente
com a escova de chão, meu fusca imaginário - uma vez em companhia do meu querido avô, apreciamos por horas em uma vitrine da Otávio Rocha, um fusca bombeiro bate-volta que eu, com minha imaginação fértil, acreditei que seria presenteado - sonho até hoje. Na falta do fusca, servia-me a escova de chão, nunca tive brinquedos de menino em minha infância, coisa rara para os filhos dos proletariados naqueles tempos... 

E assim minha visão foi abrindo... continua em breve

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