16 de dez. de 2023

A real

Quando o brilho ofuscante do primeiro tiro lampejou em meus olhos,
Acordei!
Estava ali, só, ainda  sonolento, 
Não naquele mundo de ilusões
Formado por sentimentos furtivos...
Mas no real mundo que tanto tememos!
Amargo, cruel, louco, bruto e doido!
Entre guerras insanas e disputas obtusas,
Com irmãos na extrema fome,
E eu, o egoísta, pensando em mim!
Que direito eu tenho em expor minha dor?
A dor do mundo é infinitamente maior!
É a dor de quem perdeu tudo, até as expectativas.
É a dor de quem tem fome,
De quem teve o lar destroçado pelo ódio,
De quem dorme sob as estrelas, ou sob os flashes de bombas
De quem perdeu a mãe, o filho, o chão,
em guerras que nem eram suas.
Que tornou tinta o sangue
para pintar uma aquarela de sofrimento.
Aos irmãos que seu credo renegava.
Como queria agora Senhor,
Que toda minha angústia oprimisse o opressor...
Minha dor era mesquinha
Não teria direito de chorar!

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