20 de ago. de 2025

Vila Nova - Saudades!

Vila Nova - 7º distrito de Pelotas

Na Vila Nova, os dias começam com o canto dos galos e o cheiro do café passado na hora. As casas, muitas com varandas amplas e jardins floridos, são testemunhas de gerações que ali construíram suas histórias. O silêncio é quebrado pelo som das crianças brincando na estrada de chão batido, pelos tratores ao longe, e pelas conversas entre vizinhos que se cumprimentam com um “bom dia” sincero.

A paisagem é generosa: campos verdejantes, árvores centenárias e um céu que parece se expandir além do olhar. Os moradores cultivam hortas e pomares, criam animais e vivem em harmonia com o ciclo das estações. O pôr do sol pinta o horizonte com tons de laranja e lilás, e há sempre um instante de contemplação quando o sol lentamente se deita por trás do Cerro da Vigia, prometendo retornar soberano na manhã seguinte, surgindo majestoso por sobre os Três Cerros.

Nesse cenário, o tempo parece desacelerar. O canto dos pássaros  anuncia o dia, enquanto o aroma do pão recém-saído do forno se mistura ao cheiro da terra molhada.  Tudo pulsa com uma simplicidade que é, ao mesmo tempo, grandiosa, como se a própria natureza conspirasse para manter viva a alma desse lugar.

Mais do que um lugar, Vila Nova é uma rede de afetos. As festas comunitárias, como o churrasco de domingo ou a festa da igreja, são encontros que celebram a cultura local e fortalecem os laços. Aqui, todo mundo se conhece, e há um senso de solidariedade que transforma vizinhos em família numa perfeita harmonia, Vergara com Schiller, Martin com Peverada, Crochemore com Carnal, Radmann com Jouglard,   Ribes com Rickes, Betemps com Ney, Jaekel com Fouchy, Fonseca com Rodrigueiro, Hobuss com Mohnsam...

A vida é simples, mas cheia de significado. Há orgulho nas raízes, nas histórias contadas pelos mais velhos, e na preservação dos costumes. Mesmo com as mudanças do mundo moderno, Vila Nova mantém sua essência: um lugar onde se vive com dignidade, respeito e alegria.

Conheci esse lugar ainda muito jovem. Era uma manhã de domingo, em plena primavera. Eu, minhas irmãs e meus pais estávamos em um daqueles passeios inesquecíveis em família. Passamos por ali a caminho da casa Bachini, a bordo do nosso velho Hillmann Minx 1950, que rangia nas curvas como se também estivesse saboreando a paisagem.

Levei minha pipa para soltar ao vento de novembro, e não encontrei em nenhum outro lugar um céu tão azul e límpido quanto o daquele ponto da nossa colônia. Foi ali, entre o cheiro da terra e o silêncio que canta, que me apaixonei, não apenas pelo céu, mas pelo sentimento de pertencimento que aquele lugar despertava.

Anos depois, já namorando, descobri que a família da minha futura esposa morava lá. E então, o que era lembrança virou reencontro. Cada visita se tornava uma travessia entre o passado e o presente, como se a Vila Nova guardasse, em suas estradas e campos, os capítulos mais doces da minha história.

Passadas mais de três décadas, coube a mim a missão de levar água tratada a todos os moradores, filhos dos antigos amigos, que com o tempo se tornaram novos amigos. Com eles convivi intensamente pelos últimos doze anos, até minha aposentadoria do serviço público. Foi um ciclo que se fechou com gratidão: pude retribuir àquela terra e àquelas pessoas um pouco do que recebi, desde aquele primeiro domingo de primavera, quando o céu da colônia me ensinou o que era pertencimento.

Agradeço profundamente a amizade desinteressada e a atenção generosa recebida dos amigos: José Radmann, Luiz Carlos Fonseca, Edegar Rodhigueiro, Marvel Schiller, Núbia Casari, Maria Isabel Vergara, Samuel Vergara, Claudia Maria Schiller, Paulinho Hobuss, Cleusa Peverada, Samuel Vergara, e tantos outros que, com gestos simples e palavras sinceras, tornaram minha caminhada mais leve, produtiva e significativa.

Em memória do meu velho e querido amigo Joaozinho Jaekel, que sempre me recebeu com cortesia, gentileza e aquele calor humano que não se esquece. Sua presença permanece viva nas lembranças e no coração.


1 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo texto ,me emocionei muito com suas palavras.

clique

now